- sem título -

há tanta coisa acontecendo...
então, não se doa se eu sumi(r).

estou sumida até de mim.

sobre desenhar você

até quando desenho você
você é sobre mim

- sem título -

teu silêncio
que pratico profundamente
me lambe
ora frio
ora quente

pêlos

sempre quis ter pêlos
- até tê-los (os meus)
nunca quis ter pêlos
- até tê-los (os teus)

.

sucinta
só sinto

sinais

o melhor cara é aquele que
parece verde

chego perto,
ele amarela
- fico vermelha

estaciono à luz do desejo,
quero dizer,
num futuro escuro me
clareará
e será por mim iluminado

- sem título -

entra c'a delicadeza dos dedos
silen'cio...

- sem título -

me ganha naturalmente
arreganhand'os dentes

sem pressa

ando
devagar
divagando

notívaga







minha noite é quieta
solitária

longa noite vaga

- sem título -

- a gente tá resolvendo as coisas da separação:
quem fica com a casa,
quem fica com o coração.

s a u - d a - d e

d o - e u

l e n - t o

e m - m i m

v ê - l o

s o r- r i r - e

n ã o

s a - b e r

m a i s - a - b r a - ç á - l o

- sem título -

não sabe que alma é essa,
a que vestiu.
vestiu outra alma
- uma podre, velha e triste
alma.



- sem título -

esses dias passam loucos
estão todos bêbados
arrastando as horas pelas calçadas
matando o tempo

sorriso


coloquei teu retrato
antigo na parede
grafitada o sorriso mais
suave gentil meigo numa
foto em preto e branco

a dor de
hoje não ofusca a
pureza no
olhar a
graça do recato óbvio

da última vez tive
vontade de lhe
fazer um
cafuné até que
dormisse



choraria em
contemplando a
face do sorriso que ainda
pintarei para
eternizar nos outros

porque é
eterno em mim o mesmo
torpor por qualquer um dos teus
mesmos sorrisos
mainha
através do véu
pude ver nada além
só senti os meus cabelos
entre os dedos de alguém
enroscados
- no imaginário

verso

ocupação de poeta

o poeta cria mundos, une versos

beira-mata


minha praia
é à beira-mata

mergulhada na paz
trazida pela música
que o vento faz no roçado com as folhas

no mar do sossego
do sono sem fim
na rede da varanda do sonho

à beira-mata
estou livre à vontade

tá tudo complexo

no espelho, reflexo
na imag'em teu olho, convexo
no presente, o passado em anexo
na comparação, sexo
na palavra que não volta atrás, inexorável
num choro ou outro sem nexo
em dois em um desconexo

tá tudo complexo,
inexorcizável.

fui!

- ó, ninguém mais fala
e nem se der sente,
então não se sente
qu'eu fechei a sala.

- fotopoema -


foto: priscila lima
poema "cem negócios à parte" e stencil-art: wanessa dedoverde

'in'verso

- sem título -

j'ai bu
chaque mot
de ton esprit fou
et je me suis couché
ivre.

falando

fora da fortaleza,
protuberantemente,
tem vontade de provar saliva

falo da boca pra fora
falo da boca pra dentro

entre nós

intocada,
a sobremesa
sobre a mesa
apodrece
enquanto o silêncio
conversa
sobretudo
sobre tudo.

cem negócios à parte



eu sei

haverá cura pra tua
alma

- se não há.

e descanso sem vazio
e um sol que não queima

- de só iluminar...